Trabalha em televisão porque assim sonhava na sua adolescência. Fala sobre o fim de Morangos com Açúcar e conta como se sentiu ao ganhar um Emmy com a novela Meu Amor. O futuro da ficção nacional? «Portugal está no bom caminho»
Nasceu a 23 de Junho de 1977. É o Director de Projecto da novela O Beijo do Escorpião.
Desde
a adolescência que tinha o bichinho da televisão. Já nos tempos de escola andava sempre com uma handycam (câmara de filmar) a fazer os meus filmes. Tive a sorte de estudar numa
escola que já naquela altura tinha um Centro de Produção Audiovisual e foi aí que comecei a desenvolver a técnica.
Como é que se distingue um bom de um
mau produto em ficção?
Isso
é muito subjectivo. Na minha visão, penso que um bom produto de ficção acima de
tudo tem que entreter. Esse é o meu principal objectivo. Se associado a isso a
ficção conseguir ser educativa e informativa, melhor. A ficção deve fazer
sonhar e criar emoções (rir, chorar, etc.) e se um produto conseguir “tocar” de
alguma forma no espectador, então é boa ficção.
Morangos
com Açúcar (TVI) foi uma das séries mais marcantes em Portugal e deu lugar a um filme. Achas que
a série devia ter continuado no ar?
Acho
que devia pelo menos ter tido mais um ano e anunciar essa como a última série para que pudéssemos ter tido um grand finale. Mas defendo a teoria de que tudo
tem um fim e que os Morangos deviam ter acabado.
Para ti, quais foram os talentos
que mais se destacaram em Morangos com
Açúcar?
É
difícil para mim destacar nomes já que foram muitos e de uma forma ou outra
todos ficaram no meu coração. Mas há, sem dúvida, alguns nomes que são
incontestáveis como o de Filomena Cautela, Pedro Caeiro, Sara Matos, Pedro
Carvalho, Sara Prata, Gabriela Barros, Ricardo Sá, Diogo Branco, etc.
Vamos a um grande momento do teu
percurso profissional. Como é que te sentiste ao ganhar um Emmy com a novela Meu Amor?
Foi
um momento estranho. Um Emmy era algo em que nunca tinha pensado e quando
surgiu a nomeação todos achámos que aquilo já era demais para o português
(pensamento típico). Mas ao chegarmos lá percebemos que, efectivamente, havia
hipóteses de ganharmos. A vitória aconteceu. Senti-me estupidamente feliz.
Foi sem dúvida um dos pontos mais altos da minha carreira que vou recordar
sempre.
A fasquia em torno das novelas
aumentou depois do Emmy?
Claro
que sim, embora depois do prémio a nossa vida volte ao normal mas, efectivamente, sente-se um olhar sobre o nosso trabalho que nos obriga a fazer melhor.
Ter um Emmy acaba por ser uma responsabilidade.
Estás actualmente na novela O Beijo do Escorpião. Como está a
correr?
A
novela está a correr muito bem. Acredito que temos uma grande história e que a
nível artístico consegui fazer grandes avanços. Temos ainda que dar tempo ao
espectador para se habituar a um estilo diferente de narrativa.
O que é que podemos esperar da
história que aborda assuntos tão sensíveis da nossa sociedade?
Pela
primeira vez vamos abordar temas a fundo (não de forma superficial) como a
homossexualidade, sexo na adolescência pela web, violência doméstica na alta
sociedade, entre outros. Estes temas são sempre muito fortes e causadores de
discórdia e por isso, normalmente, são evitados. Aqui vamos ao fundo da questão.
A vilã da história, Sara Matos, que
interpreta a Alice, tem recebido excelentes críticas. Esperavas esta reacção tão positiva e imediata em relação à Sara?
Não
tinha qualquer dúvida. Ela é, sem dúvida, umas das melhores actrizes da geração
dela.
Que surpresas podemos esperar
vindas desta história?
Se
dissesse deixava de ser surpresa.
Para quem não sabe, como é que se
escolhe o elenco de uma novela? Quais são os processos pelos quais um actor
passa até ficar com a personagem?
Depende
muito. Nas novelas da noite, quando recebo a sinopse, começo logo a imaginar
quem poderia interpretar aqueles personagens e acabo por elaborar um
organograma com a proposta de elenco que depois vai à aprovação da TVI. Se
houver algum personagem para o qual não consigo imaginar alguém, ou se queremos
de alguma forma um cara nova, aí passamos ao processo de casting.
No
caso dos produtos juvenis como os Morangos e o I Love it, aí entramos logo no
processo de pré-selecção com várias etapas de casting. Mas, infelizmente, o
mercado em Portugal é demasiado pequeno, o que nos obriga a trabalhar com elencos mais conhecidos.
Na estreia, O Beijo do Escorpião liderou. Entretanto, Sol de Inverno (Novela da SIC) tem ganho diariamente. Achas que o facto da novela
da estação de Carnaxide estar no ar há mais tempo tem efeito nos resultados?
Claro
que sim. Não podemos pedir aos espectadores que assistem há vários meses a um
produto que de um dia para o outro mudem todos para o que está no canal
vizinho. É um processo normal.
A forte concorrência alimenta o
desejo de fazer bons produtos em ficção?
Claro
que sim. Quanto melhor for a concorrência mais nos obriga a fazer melhor. Evita
que fiquemos à sombra da bananeira.
Não
gosto de destacar actores. Claro que tenho as minhas preferências mas não devo
publicamente exprimi-las. Para mim, ser bom actor não chega. Tem que ser um bom
ser humano e ser um bom elemento de uma equipa de trabalho.
Se pudesses ir buscar algum actor à
concorrência, quem seria?
Acho
que já trabalhei com quase todos eles mas neste momento ia buscar uma grande
actriz e um a grande amiga, a Maria Emília Correia.
Para terminar, como é que imaginas
a ficção portuguesa daqui a dez anos?
Imaginar
é uma coisa, dizer como gostava é outra. Por isso vou dizer aquilo que gostava.
Era importante que apostássemos em formar bons autores. Temos alguns mas
precisamos de mais. A escrita é a matéria prima de uma boa obra de ficção.
Gostava que se investisse em séries mas como a série é um produto muito caro,
e financeiramente muitas vezes inviável, seria necessário mais apoios do
estado. Mas, seja como for, acho que
Portugal está no bom caminho. O facto é que já por duas vezes fomos
premiados pelos óscares da televisão e já começamos a exportar os nossos
produtos. É um sinal de prosperidade.
Obrigado, Hugo!
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