quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Filipe Afonso - A vida lá fora

Filipe Alexandre da Fonseca Afonso. Um rapaz de vinte cinco anos que, tal como muitos outros, arrisca a vida fora do seu país. Cardiopneumologista de profissão. De poucos sonhos, gosta de viver o presente. De arriscar. Emociona-se ao falar do seu país e das suas origens. Mais um lá fora com desejos de voltar um dia.


Quem é o Filipe Afonso?
Sou um jovem como todos os outros, não tenho nada que me distinga das outras pessoas.
Sou aventureiro, como vão perceber ao longo da entrevista, e gosto muito de me divertir e de estar sempre rodeado de família e amigos.
Gosto muito de viajar e de poder conhecer o mundo e outras culturas. Sou sociável, o que me ajudou e continua ajudar em muitas ocasiões da minha vida.
Gosto de pensar no presente. Gosto de viver a vida com um passo de cada vez. Só quero é ser feliz.

A trabalhar
Estudar uma área ligada à saúde fazia parte dos teus sonhos? Como é que surgiu?
Quando fui para o secundário, para ser sincero, não sabia bem o que queria. Só sabia que queria ir para a área de ciências porque era a área para a qual tinha mais jeito. Depois, dentro da área de ciências, pensei em saúde e pronto foi isso.

Com o tempo revelou-se a escolha acertada?
Sim, na área da saúde.
Mais ou menos na parte do curso. Estou contente com o curso que tirei mas quando terminei a licenciatura fiquei com vontade de tirar medicina.

Achavas que medicina seria um bom complemento ao teu curso?
Não é bem um complemento. Depois de perceber e de estudar anatomia, fisiologia e patologia, por exemplo, percebi que gostava de experimentar algo mais. Que cardiopneumologia afinal não era bem o que eu queria. Quem sabe um dia talvez venha a tirar medicina…

Quais foram as maiores dificuldades que encontraste até terminar o curso?
Bem, todos os cursos têm aquelas cadeiras que só passas à terceira ou quarta vez mas não considero isso uma grande dificuldade porque já estava à espera. Agora, a única dificuldade que tive foi financeira. Até porque tive de pedir um empréstimo ao banco que ainda estou a pagar.

O que aconteceu quando acabaste o curso? Conseguiste logo o primeiro trabalho?
Andei à procura de trabalho e ao mesmo tempo andava a fazer trabalho como voluntário. Mas posso dizer que não tive muita dificuldade em encontrar trabalho porque comecei a trabalhar passados quatro meses.

Foi um trabalho na tua área?
Sim, foi. Foi numa empresa da área do sono. Ia a casa dos pacientes para os acompanhar no tratamento do sono (apneia), fazia algumas consultas nos hospitais.

Quando é que decides sair do país?
Já pensava nisso quando ainda estava a tirar o curso.

Porquê?
Tinha noção do estado actual do país, e porque sabia que iria ser muito difícil arranjar um trabalho.

Como é que surgiu a hipótese de ir trabalhar para Galway, na Irlanda?
Desde que acabei o curso. Estive sempre à procura de trabalho no estrangeiro. Registei-me em algumas agências de recrutamento e enviei currículos para todo o lado. Um dia tive a sorte de uma agência de recrutamento me ligar a dizer que tinham encontrado uma vaga para Galway. Fui escolhido para a entrevista e fiquei com o cargo.

Quando soubeste que o cargo era teu e que tinhas de ir, o que é que pensaste? Qual foi a reacção das pessoas que te eram próximas?
No momento que soube, fiquei completamente em êxtase e não pensei em mais nada a não ser nas coisas boas. As pessoas à minha volta não gostaram muito da ideia mas sempre fui muito apoiado.
Passadas algumas horas é que comecei a pensar em tudo. Prós e contras sobre a  minha mudança mas sempre com muita vontade de ir.

O que é que encontraste quando chegaste a Galway? Como é que foste recebido?
Encontrei uma cidade pequena mas com muito movimento e com muita gente nova, o que me agradou muito. Fui bem recebido, tive muita ajuda. E nunca tive problemas por causa da língua. Os irlandeses, pelo menos em Galway, gostam muito de ajudar e de se sentirem úteis.

Conhecias ou tinhas alguém por lá ou estiveste completamente sozinho?
Tinha uma amiga que estava noutra cidade, que ficava a hora e meia de Galway, mas que me ajudou muito. Em Galway estava sozinho.

O que é que foi mais difícil na mudança e depois na adaptação pessoal e profissional?
Talvez as primeiras duas semanas em que tive de ficar num B&B (hotel onde se tem apenas cama e pequeno almoço) e o tratar de todos os documentos. Sendo sociável, conheci logo pessoas e foi mais fácil. A nível profissional, o software era um bocado diferente mas os meus colegas ajudaram-me e ensinaram-me a trabalhar com ele.

Amigos de Galway
Aspectos positivos de Galway. Quais foram? Eras bem pago por lá?
Aspectos positivos foram quase todos. A cidade, como já disse, é muito pequena mas muito acolhedora. As primeiras semanas em que estive lá, tentava sempre comparar Galway com Portugal e realmente algumas paisagens são muito parecidas. Comparei com o Algarve, Cascais, Sintra, com o norte… Estive lá a viver durante um ano e cinco meses e consegui visitar a ilha quase toda. Uma ilha lindíssima com paisagens espectaculares.
A noite em Galway, comparada com a de Portugal, não é lá grande coisa por causa dos horários. Os sítios fecham às duas, três da manhã e depois disso vai tudo para casa. Mas a nível de espírito é realmente muito bom.
Aconselho vivamente toda a gente a visitar a Irlanda ou para trabalhar. Os ordenados são bem melhores e a qualidade de vida é bem melhor que em Portugal, até porque os supermercados têm o mesmo preço dos supermercados de Portugal.
A única parte má foi a nível profissional. Senti que estava estagnado e que não ia aprender mais nada do que aprendi.

Recentemente mudaste-te para Inglaterra. A que se deveu essa mudança?
Senti que estava estagnado a nível profissional na Irlanda. Decidi então mudar-me para Inglaterra. Aqui sei que vou aprender mais e vou ganhar ainda mais experiência.

Está a ser fácil a adaptação? Que diferenças estás a encontrar?
No trabalho está a ser muito fácil. Fui muito bem recebido e eles estão acreditar e a confiar muito no meu trabalho. Sinto que só por ser português já tenho muito mais vantagens, pois eles adoram os portugueses pelo aspecto de sermos muito trabalhadores e de sabermos, muitas vezes, mais do que nos é pedido.
Férias em Portugal
Em relação à cidade, é muito maior que Galway. Sendo a segunda maior cidade do país, levará mais tempo esta adaptação.

O que é que esperavas do teu país que ele não te tenha dado?
Estabilidade. Procura. Apoio. Aqui sinto que tenho tudo isso e sinto que se algo acontecer, tenho apoios a todos os níveis.
Como é lógico, sinto saudades de muitas coisas em Portugal, desde a família, amigos, à nossa comida que é tão boa e tão falada aqui por estes lados. As nossas paisagens, as nossa aldeolas, tudo. Sinto muitas saudades de tudo. Sinto saudade das noites portuguesas. Um dia hei-de voltar. Não sei quando mas irei!  

Que mensagem queres deixar aos que querem sair do país à procura de uma vida melhor?
Da pouca experiência que tenho, sinto que a primeira coisa que têm de pensar é se realmente querem ou conseguem deixar a vida que têm em Portugal. É tudo muito bonito quando vamos para outro pais e o ordenado é duas ou três vezes melhor que em Portugal mas dinheiro não é tudo. Ajuda, como é lógico. E muito. Mas não é tudo. Se a parte emocional não estiver estabilizada, não há dinheiro que pague seja o que for.
Na minha opinião, e depois de ter referido a parte emocional, acho que devem emigrar, porque neste momento, em Portugal, como toda a gente sabe, e talvez melhor do que eu, as coisas não estão fáceis. E aqui poderão ter uma qualidade de vida muito, mas muito melhor. As ofertas de trabalho são às centenas e as pessoas acreditam em nós. Desenvolvam o inglês e posso garantir-vos que irão arranjar trabalho.
Ao contrário do nosso país e do nosso governo, as pessoas aqui acreditam e gostam muito dos portugueses. Dizem que somos muito inteligentes e que somos muito trabalhadores e que gostamos de cumprir horários.
Custa, como é lógico. Custa sair do nosso país do qual tanto gostamos e custa deixar a nossa cidade, família e amigos para trás. Mas temos de pensar que irá ser o melhor para nós e que um dia todo o bom filho regressa a casa.

Obrigado, Filipe! 


3 comentários:

  1. Muito bom trabalho, deve ser partilhado pois pode servir para dar uma ajuda a alguém que queira partir, este tipo de entrevistas devia andar por todo o lado ate chegar aos olhos dos políticos que causaram esta debandada de jovens talentos que mãos tarde vão fazer falta por cá

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    1. Sem dúvida, Badamalos. A intenção da entrevista é dar a conhecer e divulgar realidades que merecem atenção!
      Muito obrigado pelo seu comentário! Continue a acompanhar-nos!

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