sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A Apresentadora de Televisão - Opinião


Fotografia retirada do Google


Cristina Maria Jorge Ferreira – Assim se chama a grande apresentadora de televisão do momento, com apenas trinta e seis anos.

Começou a sua carreira há pouco mais de dez, de forma tímida, nos extras do Big Brother mas, em boa hora, José Eduardo Moniz reconheceu o seu talento. Manuel Luís Goucha escolheu e, até hoje, a apresentadora soube trilhar o seu caminho de sonho na TVI.

Em tempos, para o público, e ela sabe-o bem, foi a colega de Manuel Luís Goucha. Mas esses tempos já lá vão. Hoje, Cristina Ferreira, sem qualquer dúvida, é a melhor apresentadora de televisão do nosso país. É única. É desconcertante. É irreverente. É profissionalismo. É alegria. É verdade. É a verdade que todos procuramos encontrar em quem faz televisão e que nem todos conseguem transmitir. 

Ela é, claramente, o exemplo de que se pode chegar muito longe, mesmo começando do zero e sem cunhas. Foi inteligente na gestão do seu percurso e da sua popularidade e lançou o blogue Daily Cristina que depressa se tornou um sucesso. Seguiu-se o livro Deliciosa Cristina, o convite para dar a cara por uma grande marca internacional e lançar o seu perfume e agora é directora de conteúdos não informativos da estação de Queluz de Baixo. 

É realmente um percurso de sonho mesmo que se diga que parte dele tenha sido conseguindo à base de especulações sobre uma possível transferência para a SIC. Tem o seu valor no mercado e apenas por isso a TVI a segura nos seus quadros: sabe o que ela vale. E vale muito.

Cristina Ferreira, para lá da televisão, é uma mulher simples. Faz parte de nós. É de sorriso fácil e de uma sensibilidade que também no ecrã, em alguns momentos, pudemos ver. 

Goste-se ou não do estilo, ela veio para ficar. E que fique. Que fique com ela toda a alegria que diariamente nos transmite. Que fique e nos leve a fazer parte dos melhores momentos de televisão em Portugal (…)

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Marta Cardoso - A Entrevista

Define-se como teimosa e romântica. Emociona-se com as coisas simples da vida e deixa uma mensagem àqueles que sonham com o mundo da televisão. 


Quem é a Marta Cardoso para lá daquilo que todos conhecemos?
É uma pessoa muito simples, que precisa de pouco para viver, que se adapta muito facilmente a todas as situações e, acima de tudo, valoriza o presente e nunca chora o que não tem – agradece tudo o que a vida lhe dá com alegria e muita palhaçada à mistura!!!

A Marta deu-se a conhecer no Big Brother. Esperava permanecer em televisão ou foi algo que aconteceu com o tempo e com a sua persistência?
Não esperava mas ganhei-lhe o gosto e fiz disso um objectivo. Levei 10 anos a consegui-lo. J

Disse numa entrevista que gosta de testar os seus limites e que nunca temeu que a fama acabasse. Este espírito de luta ainda se mantém?
Quando desaparecer, eu deixei de ser eu!

Ao longo do seu percurso passou por vários Realitys Shows. Qual foi o mais marcante?
Todos me marcaram à sua maneira: o Big Brother pela idade (e novidade), o Circo das celebridades pela componente mais física e o “perdidos na tribo” pela situação extrema. Aprendi com todos! E adorei todos.

A Rádio também fez parte da sua vida. Como foi a experiência na Rádio Voz de Alenquer?
Foi fantástico porque a comunicação está centrada na voz, na dicção, na emoção que as palavras têm de transmitir e, pela primeira vez, não ter de me preocupar com maquilhagem e vestidos foi fantástico!


A Marta define-se como uma pessoa coerente. Sente essa coerência no seu percurso profissional?
Sinto. Tenho dado passos lentos mas sólidos, como eu gosto.

O que é que as pessoas lhe dizem na rua?
Que gostam de mim, que me admiram, pedem conselhos, é muito giro.

Tem passado por vários programas, quer como comentadora, quer como apresentadora. O que gostava mais de fazer actualmente no campo profissional?
Exactamente o que estou a fazer. Tiro sempre partido de cada fase, absorvo tudo, dou tudo de mim e divirto-me. O futuro? Só deus sabe. Mas o que quer que seja, será bem-vindo.

A TVI tem apostado em si. Sente que é uma aposta para manter?
Não sei. Nem me vou pôr adivinhar. A única coisa que posso fazer é agradecer, trabalhar e rezar para não defraudar quem tem acreditado em mim.

Já foi abordada por outra estação de televisão?
Não, nunca.

Ainda na televisão, qual é, para si, o melhor momento que viveu em televisão?
Todos, não consigo escolher um.

E o mais insólito?
Não tenho nenhuma historia insólita, felizmente correu sempre tudo bem.

A Marta é mãe. Como é que o seu filho vê a sua profissão? O que é que ele lhe diz sobre o seu trabalho?
Ele acha giro, mas normal. Sempre me conheceu nesta “vida”. Não se deslumbra com nada.

A Marta assume-se como romântica. Até que ponto?
Sou bastante, mas sem loucuras.

O que é que a emociona?
As coisas mais simples, as crianças e os filmes dramáticos.


Como é que alguém consegue tirá-la do sério?
É muito difícil…

Quando olha para o estado do País, o que é que pensa?
Penso que nada acontece por acaso… Infelizmente.

O que é que lhe apetece dizer a quem nos governa?
Nem sempre o que queremos e o que somos capazes são uma e a mesma coisa…

Que conselhos deixa àqueles que sonham com o mundo da televisão?
Que trabalhem, que lutem, mas com humildade.

Partilhe connosco o que lhe passa pela cabeça neste preciso momento.
Tenho tanta roupa para estender e estou aqui ao computador... (risos)

Obrigado, Marta!


domingo, 23 de fevereiro de 2014

"Maria" - Diz não à Violência Doméstica

Maria, como prefere ser chamada, foi vítima de violência doméstica. Aos 43 anos, com um filho de 12 para criar, resolveu mudar de vida e pôr fim às agressões de que era alvo.
 
NÃO SE CALE. DENUNCIE. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA É CRIME.

Olá, Maria. Este é um assunto delicado mas mostrou muito interesse em falar dele e em dar o seu exemplo, ainda que o dê sem dar a cara. Porquê?
Essencialmente porque sofri calada durante muitos anos. Vivi presa a mentiras e nada compensa este sofrimento. Nem mesmo o amor que sentimos por alguém que só nos maltrata. Quero deixar o meu testemunho a outras mulheres que possam estar a passar pelo mesmo.

Porque é que opta por não dar a cara?
Apenas para me proteger dos olhares das pessoas que normalmente olham para as vítimas de violência doméstica como coitadinhas. Não o sou e jamais quero ser vista como tal. E também para proteger o meu filho que muito sofreu com estes acontecimentos.

Quando fala da sua experiência a outras pessoas, o que é que sente que elas sentem?
As pessoas sentem pena. Julgam-me por não ter saído de casa há mais tempo e por permitir que o meu filho tenha vivido assim…

É difícil sentir esse julgamento?
É. É porque as pessoas não fazem ideia do que se vive exactamente dentro das quatro paredes. Não sabem como é duro viver esta realidade.

Como é que começou esta história de violência doméstica?
Começou aos sete meses de gravidez. A atitude do meu marido, que já era muito ciumento, mudou completamente. Começou a ser agressivo, a falar-me mal e a dizer que eu não servia para nada e que ele é que sabia da casa dele. Fazia-me sentir inútil em tudo. Só me apetecia desaparecer mas depois só pensava no meu filho.

E depois do nascimento do seu filho? Esses comportamentos por parte do seu ex-marido mantiveram-se?
Após o nascimento do meu filho as atitudes dele pioraram. Fez com que deixasse de trabalhar para tratar do meu filho e passou a dar dinheiro apenas para o meu filho. Não queria saber se eu tinha o que comer ou vestir. Chamava-me nomes e um dia, quando eu tento reagir, dá-me o primeiro estalo na cara e diz que eu sou uma vadia e que tenho de andar como ele quer. A partir daí, se eu saía de casa, dizia que eu tinha amantes e que eles me pagavam o que eu queria e que me tirava o meu filho. Fiquei em pânico. Perdi toda a minha auto-estima e afundei-me. Fiquei com uma grande depressão.

O que é que sentiu ao levar o primeiro estalo?
Uma grande revolta. Ele estava a tirar-me a vida aos poucos. Fazia-me sentir com nojo de mim própria porque eu achava que não tinha valor nenhum. E depois tinha um filho e só pensava no bem-estar dele. E aguentei.

Após o primeiro estalo, que tipo de violência se seguiu?
A verbal. Doía-me mais do que um estalo. Ele chamava-me muitos nomes. Chamava-me porca, dizia que eu era uma puta sem valor. Dizia que eu ia viver como uma cadela de rua e que ia fazer tudo para me deixar mal. E acabava comigo mais e mais. Quando bebia, as coisas pioravam. Saía com os amigos e quando chegava a casa partia tudo. Eu era obrigada a trancar-me com o meu filho no quarto, que não parava de chorar, para ele não nos fazer nada. Uma vez arrombou a porta e deu-me socos e pontapés à frente do meu filho.

Que idade tinha o seu filho quando isso aconteceu?
Tinha seis ou sete anos.

Qual foi a reacção dele?
Agarrou-se ao pai, aos gritos, e a pedir para ele parar. Só gritava e chorava.

E o seu ex-marido não parou?
Não. Só dizia que eu tinha de levar por ser uma puta ordinária. Eram estas as palavras dele à frente do meu filho.

E mesmo assim aguentou durante muitos anos…
Eu tinha medo dele e ao mesmo tempo sentia amor. Foi o único homem que tive. Era o pai do meu filho. 
Éramos muito novos e eu não conhecia outra realidade senão aquela…

Como é que era o ambiente em casa quando estavam todos juntos?
Depende… Se ele não bebesse era agressivo mas não passava disso. Se tivesse bebido, aí sim, era de terror. O meu filho, com medo, fechava-se no quarto. Chorava. Assim que ouvia a porta de casa abrir, ao saber que era o pai, tremia de medo. E eu ficava igual. Fingia muitas vezes que estava a dormir só para ele não me bater ou implicar comigo.

Quando ele a agredia física e verbalmente dava-lhe algum motivo para o fazer?
Não. Fazia-o pegando nas mais pequenas coisas como estar frio e eu ter a janela do quarto aberta para o quarto apanhar ar.

Nunca pediu ajuda a amigos ou familiares?
Amigos deixei de ter quando casei. Ele não permitia. Se saía com amigas ele dizia que andávamos a fazer o que não devíamos. Se tivesse amigos ele dizia que eu andava com eles e que era uma puta e que me punha fora de casa.

E a sua família?
A minha família não tinha capacidades para me ajudar. A certa altura, como eu própria desistia de mudar de vida por medo, eles desistiram e pensaram que eu nunca sairia desta vida.

Alguma vez apresentou queixa às autoridades?
Apresentei.

E depois? O que é que aconteceu? Que ajuda é que lhe foi prestada?
Na verdade não surtiu grande efeito. A polícia foi à minha casa, acalmou os ânimos naquela noite e foi embora. Não fui acompanhada. Não tomaram medidas. E eu, não tendo para onde ir, fiquei em casa e a revolta dele aumentou. Passou a dizer que me matava se eu voltasse a fazer queixa dele.

Desistiu da queixa que fez?
Desisti.

Alguma vez pensou em morrer para acabar com o sofrimento?
Pensei muitas vezes. Tentei fazê-lo com comprimidos mas a seguir lembrei-me do meu filho. Vomitei tudo e desisti. Foi um momento de fraqueza muito grande. Já não tinha esperança.

A certa altura, a sua atitude muda e decide enfrentar esta má fase. O que é que mudou?
Foi o meu filho que me fez mudar. Depois de uma violenta discussão, o meu filho agarrou-me a chorar e disse que não aguentava mais. Respirei fundo, pensei nele e percebi que aquela situação não podia continuar.

O que é que fez?
Procurei ajuda. Procurei uma amiga que não via há muito tempo e pedi-lhe ajuda. Fiquei em casa dela com o meu filho, encontrei emprego e apresentei queixa do meu ex-marido. A partir daí tudo mudou. Mudei de contacto telefónico e tive de ser muito forte.

Ele deixou de procurá-la?
Não. Ele bem procurou mas eu mudei-me para longe. De certa forma tive de fugir porque a polícia não nos protege. Não nos dá garantias e não faz os agressores ficarem longe.

Teve medo?
Tive. Tive muito. Mas o olhar do meu filho fez-me mais forte. Depois fui conhecendo outras pessoas que me deram muita força e me mostraram o meu valor enquanto mulher. Foi fundamental mudar de realidade. Foi fundamental ter um emprego.

Que caminho seguiu esta história?
Fomos a tribunal. Um ano depois, claro. Foi um longo caminho. Muito demorado e penoso. Com riscos. Mas foi feito, graças a deus. Ele não foi condenado por não existirem factos suficientes que comprovassem as agressões. É o estado miserável da nossa sociedade que só age quando as mulheres morrem nas mãos destes homens cobardes.

Como é hoje a sua vida?
Hoje é estável. Encontrei um homem que me ama verdadeiramente. Sinto-me mais segura. Sinto-me feliz. O meu filho está feliz e vai ter uma irmã. Tenho uma vida profissional bem-sucedida. Felizmente, tudo passou.

Da má fase que passou na sua vida, o que é que ficou?
Ficaram alguns traumas. É difícil confiar nas pessoas hoje em dia. Ficou a certeza de que a minha dignidade enquanto mulher e enquanto pessoa não pode ser posta em causa. Mas tudo se ultrapassa.

Que mensagem quer deixar às pessoas que a vão ler?
Denunciem estas situações sempre que tiverem conhecimento. Pode fazer a diferença na vida de alguém. Aliás, fará mesmo a diferença. Não compactuem. Não tenham medo. A vida tem de ser enfrentada e não só pelos nossos filhos mas também por nós.

Obrigado, “Maria”.


NOTA: Esta entrevista foi feita há uns meses atrás quando este projecto era apenas uma ideia. Este é um caso que merece ser divulgado. Acabou bem. Podia ter acabado muito mal. Não fico em silêncio, de maneira alguma, perante situações deste tipo. Espero que não fiquem também. Peço-vos que, junto dos vossos amigos, divulguem esta história e a façam chegar longe. Esta é uma de muitas Marias que merecem apoio, destaque e força. Obrigado!

Se não sabe como ajudar ou quem contactar em casos como este, disponibilizo os contactos úteis: 


APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima)
Telefone: 213 587 900 E-mail: apav.sede@apav.pt

Em caso de emergência, deve contactar de imediato o 112 e alertar as autoridades. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Filipe Afonso - A vida lá fora

Filipe Alexandre da Fonseca Afonso. Um rapaz de vinte cinco anos que, tal como muitos outros, arrisca a vida fora do seu país. Cardiopneumologista de profissão. De poucos sonhos, gosta de viver o presente. De arriscar. Emociona-se ao falar do seu país e das suas origens. Mais um lá fora com desejos de voltar um dia.


Quem é o Filipe Afonso?
Sou um jovem como todos os outros, não tenho nada que me distinga das outras pessoas.
Sou aventureiro, como vão perceber ao longo da entrevista, e gosto muito de me divertir e de estar sempre rodeado de família e amigos.
Gosto muito de viajar e de poder conhecer o mundo e outras culturas. Sou sociável, o que me ajudou e continua ajudar em muitas ocasiões da minha vida.
Gosto de pensar no presente. Gosto de viver a vida com um passo de cada vez. Só quero é ser feliz.

A trabalhar
Estudar uma área ligada à saúde fazia parte dos teus sonhos? Como é que surgiu?
Quando fui para o secundário, para ser sincero, não sabia bem o que queria. Só sabia que queria ir para a área de ciências porque era a área para a qual tinha mais jeito. Depois, dentro da área de ciências, pensei em saúde e pronto foi isso.

Com o tempo revelou-se a escolha acertada?
Sim, na área da saúde.
Mais ou menos na parte do curso. Estou contente com o curso que tirei mas quando terminei a licenciatura fiquei com vontade de tirar medicina.

Achavas que medicina seria um bom complemento ao teu curso?
Não é bem um complemento. Depois de perceber e de estudar anatomia, fisiologia e patologia, por exemplo, percebi que gostava de experimentar algo mais. Que cardiopneumologia afinal não era bem o que eu queria. Quem sabe um dia talvez venha a tirar medicina…

Quais foram as maiores dificuldades que encontraste até terminar o curso?
Bem, todos os cursos têm aquelas cadeiras que só passas à terceira ou quarta vez mas não considero isso uma grande dificuldade porque já estava à espera. Agora, a única dificuldade que tive foi financeira. Até porque tive de pedir um empréstimo ao banco que ainda estou a pagar.

O que aconteceu quando acabaste o curso? Conseguiste logo o primeiro trabalho?
Andei à procura de trabalho e ao mesmo tempo andava a fazer trabalho como voluntário. Mas posso dizer que não tive muita dificuldade em encontrar trabalho porque comecei a trabalhar passados quatro meses.

Foi um trabalho na tua área?
Sim, foi. Foi numa empresa da área do sono. Ia a casa dos pacientes para os acompanhar no tratamento do sono (apneia), fazia algumas consultas nos hospitais.

Quando é que decides sair do país?
Já pensava nisso quando ainda estava a tirar o curso.

Porquê?
Tinha noção do estado actual do país, e porque sabia que iria ser muito difícil arranjar um trabalho.

Como é que surgiu a hipótese de ir trabalhar para Galway, na Irlanda?
Desde que acabei o curso. Estive sempre à procura de trabalho no estrangeiro. Registei-me em algumas agências de recrutamento e enviei currículos para todo o lado. Um dia tive a sorte de uma agência de recrutamento me ligar a dizer que tinham encontrado uma vaga para Galway. Fui escolhido para a entrevista e fiquei com o cargo.

Quando soubeste que o cargo era teu e que tinhas de ir, o que é que pensaste? Qual foi a reacção das pessoas que te eram próximas?
No momento que soube, fiquei completamente em êxtase e não pensei em mais nada a não ser nas coisas boas. As pessoas à minha volta não gostaram muito da ideia mas sempre fui muito apoiado.
Passadas algumas horas é que comecei a pensar em tudo. Prós e contras sobre a  minha mudança mas sempre com muita vontade de ir.

O que é que encontraste quando chegaste a Galway? Como é que foste recebido?
Encontrei uma cidade pequena mas com muito movimento e com muita gente nova, o que me agradou muito. Fui bem recebido, tive muita ajuda. E nunca tive problemas por causa da língua. Os irlandeses, pelo menos em Galway, gostam muito de ajudar e de se sentirem úteis.

Conhecias ou tinhas alguém por lá ou estiveste completamente sozinho?
Tinha uma amiga que estava noutra cidade, que ficava a hora e meia de Galway, mas que me ajudou muito. Em Galway estava sozinho.

O que é que foi mais difícil na mudança e depois na adaptação pessoal e profissional?
Talvez as primeiras duas semanas em que tive de ficar num B&B (hotel onde se tem apenas cama e pequeno almoço) e o tratar de todos os documentos. Sendo sociável, conheci logo pessoas e foi mais fácil. A nível profissional, o software era um bocado diferente mas os meus colegas ajudaram-me e ensinaram-me a trabalhar com ele.

Amigos de Galway
Aspectos positivos de Galway. Quais foram? Eras bem pago por lá?
Aspectos positivos foram quase todos. A cidade, como já disse, é muito pequena mas muito acolhedora. As primeiras semanas em que estive lá, tentava sempre comparar Galway com Portugal e realmente algumas paisagens são muito parecidas. Comparei com o Algarve, Cascais, Sintra, com o norte… Estive lá a viver durante um ano e cinco meses e consegui visitar a ilha quase toda. Uma ilha lindíssima com paisagens espectaculares.
A noite em Galway, comparada com a de Portugal, não é lá grande coisa por causa dos horários. Os sítios fecham às duas, três da manhã e depois disso vai tudo para casa. Mas a nível de espírito é realmente muito bom.
Aconselho vivamente toda a gente a visitar a Irlanda ou para trabalhar. Os ordenados são bem melhores e a qualidade de vida é bem melhor que em Portugal, até porque os supermercados têm o mesmo preço dos supermercados de Portugal.
A única parte má foi a nível profissional. Senti que estava estagnado e que não ia aprender mais nada do que aprendi.

Recentemente mudaste-te para Inglaterra. A que se deveu essa mudança?
Senti que estava estagnado a nível profissional na Irlanda. Decidi então mudar-me para Inglaterra. Aqui sei que vou aprender mais e vou ganhar ainda mais experiência.

Está a ser fácil a adaptação? Que diferenças estás a encontrar?
No trabalho está a ser muito fácil. Fui muito bem recebido e eles estão acreditar e a confiar muito no meu trabalho. Sinto que só por ser português já tenho muito mais vantagens, pois eles adoram os portugueses pelo aspecto de sermos muito trabalhadores e de sabermos, muitas vezes, mais do que nos é pedido.
Férias em Portugal
Em relação à cidade, é muito maior que Galway. Sendo a segunda maior cidade do país, levará mais tempo esta adaptação.

O que é que esperavas do teu país que ele não te tenha dado?
Estabilidade. Procura. Apoio. Aqui sinto que tenho tudo isso e sinto que se algo acontecer, tenho apoios a todos os níveis.
Como é lógico, sinto saudades de muitas coisas em Portugal, desde a família, amigos, à nossa comida que é tão boa e tão falada aqui por estes lados. As nossas paisagens, as nossa aldeolas, tudo. Sinto muitas saudades de tudo. Sinto saudade das noites portuguesas. Um dia hei-de voltar. Não sei quando mas irei!  

Que mensagem queres deixar aos que querem sair do país à procura de uma vida melhor?
Da pouca experiência que tenho, sinto que a primeira coisa que têm de pensar é se realmente querem ou conseguem deixar a vida que têm em Portugal. É tudo muito bonito quando vamos para outro pais e o ordenado é duas ou três vezes melhor que em Portugal mas dinheiro não é tudo. Ajuda, como é lógico. E muito. Mas não é tudo. Se a parte emocional não estiver estabilizada, não há dinheiro que pague seja o que for.
Na minha opinião, e depois de ter referido a parte emocional, acho que devem emigrar, porque neste momento, em Portugal, como toda a gente sabe, e talvez melhor do que eu, as coisas não estão fáceis. E aqui poderão ter uma qualidade de vida muito, mas muito melhor. As ofertas de trabalho são às centenas e as pessoas acreditam em nós. Desenvolvam o inglês e posso garantir-vos que irão arranjar trabalho.
Ao contrário do nosso país e do nosso governo, as pessoas aqui acreditam e gostam muito dos portugueses. Dizem que somos muito inteligentes e que somos muito trabalhadores e que gostamos de cumprir horários.
Custa, como é lógico. Custa sair do nosso país do qual tanto gostamos e custa deixar a nossa cidade, família e amigos para trás. Mas temos de pensar que irá ser o melhor para nós e que um dia todo o bom filho regressa a casa.

Obrigado, Filipe! 


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Hugo de Sousa - A Entrevista

Trabalha em televisão porque assim sonhava na sua adolescência. Fala sobre o fim de Morangos com Açúcar e conta como se sentiu ao ganhar um Emmy com a novela Meu Amor. O futuro da ficção nacional? «Portugal está no bom caminho»
Nasceu a 23 de Junho de 1977. É o Director de Projecto da novela O Beijo do Escorpião


Trabalhar em televisão e para televisão na área da ficção era um sonho? Como é que surgiu?
Desde a adolescência que tinha o bichinho da televisão. Já nos tempos de escola andava sempre com uma handycam (câmara de filmar) a fazer os meus filmes. Tive a sorte de estudar numa escola que já naquela altura tinha um Centro de Produção Audiovisual e foi aí que comecei a desenvolver a técnica.


Como é que se distingue um bom de um mau produto em ficção?
Isso é muito subjectivo. Na minha visão, penso que um bom produto de ficção acima de tudo tem que entreter. Esse é o meu principal objectivo. Se associado a isso a ficção conseguir ser educativa e informativa, melhor. A ficção deve fazer sonhar e criar emoções (rir, chorar, etc.) e se um produto conseguir “tocar” de alguma forma no espectador, então é boa ficção.

Morangos com Açúcar (TVI) foi uma das séries mais marcantes em Portugal e deu lugar a um filme. Achas que a série devia ter continuado no ar?
Acho que devia pelo menos ter tido mais um ano e anunciar essa como a última série para que pudéssemos ter tido um grand finale. Mas defendo a teoria de que tudo tem um fim e que os Morangos deviam ter acabado.

Para ti, quais foram os talentos que mais se destacaram em Morangos com Açúcar?
É difícil para mim destacar nomes já que foram muitos e de uma forma ou outra todos ficaram no meu coração. Mas há, sem dúvida, alguns nomes que são incontestáveis como o de Filomena Cautela, Pedro Caeiro, Sara Matos, Pedro Carvalho, Sara Prata, Gabriela Barros, Ricardo Sá, Diogo Branco, etc.

Vamos a um grande momento do teu percurso profissional. Como é que te sentiste ao ganhar um Emmy com a novela Meu Amor?
Foi um momento estranho. Um Emmy era algo em que nunca tinha pensado e quando surgiu a nomeação todos achámos que aquilo já era demais para o português (pensamento típico). Mas ao chegarmos lá percebemos que, efectivamente, havia hipóteses de ganharmos. A vitória aconteceu.  Senti-me estupidamente feliz. Foi sem dúvida um dos pontos mais altos da minha carreira que vou recordar sempre.

A fasquia em torno das novelas aumentou depois do Emmy?
Claro que sim, embora depois do prémio a nossa vida volte ao normal mas, efectivamente, sente-se um olhar sobre o nosso trabalho que nos obriga a fazer melhor. Ter um Emmy acaba por ser uma responsabilidade.

Estás actualmente na novela O Beijo do Escorpião. Como está a correr?
A novela está a correr muito bem. Acredito que temos uma grande história e que a nível artístico consegui fazer grandes avanços. Temos ainda que dar tempo ao espectador para se habituar a um estilo diferente de narrativa.

O que é que podemos esperar da história que aborda assuntos tão sensíveis da nossa sociedade?
Pela primeira vez vamos abordar temas a fundo (não de forma superficial) como a homossexualidade, sexo na adolescência pela web, violência doméstica na alta sociedade, entre outros. Estes temas são sempre muito fortes e causadores de discórdia e por isso, normalmente, são evitados. Aqui vamos ao fundo da questão.

A vilã da história, Sara Matos, que interpreta a Alice, tem recebido excelentes críticas. Esperavas esta reacção tão positiva e imediata em relação à Sara?
Não tinha qualquer dúvida. Ela é, sem dúvida, umas das melhores actrizes da geração dela.

Que surpresas podemos esperar vindas desta história?
Se dissesse deixava de ser surpresa.

Para quem não sabe, como é que se escolhe o elenco de uma novela? Quais são os processos pelos quais um actor passa até ficar com a personagem?
Depende muito. Nas novelas da noite, quando recebo a sinopse, começo logo a imaginar quem poderia interpretar aqueles personagens e acabo por elaborar um organograma com a proposta de elenco que depois vai à aprovação da TVI. Se houver algum personagem para o qual não consigo imaginar alguém, ou se queremos de alguma forma um cara nova, aí passamos ao processo de casting.
No caso dos produtos juvenis como os Morangos e o I Love it, aí entramos logo no processo de pré-selecção com várias etapas de casting. Mas, infelizmente, o mercado em Portugal é demasiado pequeno, o que nos obriga a trabalhar com elencos mais conhecidos.

Na estreia, O Beijo do Escorpião liderou. Entretanto, Sol de Inverno (Novela da SIC) tem ganho diariamente. Achas que o facto da novela da estação de Carnaxide estar no ar há mais tempo tem efeito nos resultados?
Claro que sim. Não podemos pedir aos espectadores que assistem há vários meses a um produto que de um dia para o outro mudem todos para o que está no canal vizinho. É um processo normal.

A forte concorrência alimenta o desejo de fazer bons produtos em ficção?
Claro que sim. Quanto melhor for a concorrência mais nos obriga a fazer melhor. Evita que fiquemos à sombra da bananeira.

Que actores destacas na ficção portuguesa?
Não gosto de destacar actores. Claro que tenho as minhas preferências mas não devo publicamente exprimi-las. Para mim, ser bom actor não chega. Tem que ser um bom ser humano e ser um bom elemento de uma equipa de trabalho.




Se pudesses ir buscar algum actor à concorrência, quem seria?
Acho que já trabalhei com quase todos eles mas neste momento ia buscar  uma grande actriz e uma grande amiga, a Maria Emília Correia.

Para terminar, como é que imaginas a ficção portuguesa daqui a dez anos?
Imaginar é uma coisa, dizer como gostava é outra. Por isso vou dizer aquilo que gostava. Era importante que apostássemos em formar bons autores. Temos alguns mas precisamos de mais. A escrita é a matéria prima de uma boa obra de ficção. Gostava que se investisse em séries mas como a série é um produto muito caro, e financeiramente muitas vezes inviável, seria necessário mais apoios do estado.  Mas, seja como for, acho que Portugal está no bom caminho. O facto é que já por duas vezes fomos premiados pelos óscares da televisão e já começamos a exportar os nossos produtos. É um sinal de prosperidade. 

Obrigado, Hugo!




sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Se Me Esqueceres



Quero que saibas 
uma coisa.

Sabes como é:
se olho a lua de cristal, o ramo vermelho

do lento outono à minha janela,
se toco
junto do lume
a impalpável cinza
ou o enrugado corpo da lenha,
tudo me leva para ti,
como se tudo o que existe,
aromas, luz, metais,
fosse pequenos barcos que navegam
até às tuas ilhas que me esperam.

Mas agora,
se pouco a pouco me deixas de amar
deixarei de te amar pouco a pouco.

Se de súbito
me esqueceres
não me procures,
porque já te terei esquecido.

Se julgas que é vasto e louco
o vento de bandeiras
que passa pela minha vida
e te resolves
a deixar-me na margem
do coração em que tenho raízes,
pensa
que nesse dia,
a essa hora
levantarei os braços
e as minhas raízes sairão
em busca de outra terra.

Porém
se todos os dias,
a toda a hora,
te sentes destinada a mim
com doçura implacável,
se todos os dias uma flor
uma flor te sobe aos lábios à minha procura,
ai meu amor, ai minha amada,
em mim todo esse fogo se repete,
em mim nada se apaga nem se esquece,
o meu amor alimenta-se do teu amor,
e enquanto viveres estará nos teus braços
sem sair dos meus.


Pablo Neruda, in "Poemas de Amor de Pablo Neruda"