Filipe
Alexandre da Fonseca Afonso. Um rapaz de vinte
cinco anos que, tal como muitos outros, arrisca a vida fora do seu país.
Cardiopneumologista de profissão. De poucos sonhos, gosta de viver o presente.
De arriscar. Emociona-se ao falar do seu país e das suas origens. Mais um lá
fora com desejos de voltar um dia.
Quem
é o Filipe Afonso?
Sou um jovem como todos
os outros, não tenho nada que me distinga das outras pessoas.
Sou aventureiro, como
vão perceber ao longo da entrevista, e gosto muito de me divertir e de estar
sempre rodeado de família e amigos.
Gosto muito de viajar e
de poder conhecer o mundo e outras culturas. Sou sociável, o que me ajudou e
continua ajudar em muitas ocasiões da minha vida.
Gosto de pensar no
presente. Gosto de viver a vida com um passo de cada vez. Só quero é ser feliz.
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A trabalhar |
Estudar
uma área ligada à saúde fazia parte dos teus sonhos? Como é que surgiu?
Quando fui para o secundário,
para ser sincero, não sabia bem o que queria. Só sabia que queria ir para a área
de ciências porque era a área para a qual tinha mais jeito. Depois, dentro da área
de ciências, pensei em saúde e pronto foi isso.
Com
o tempo revelou-se a escolha acertada?
Sim, na área da saúde.
Mais ou menos na parte
do curso. Estou contente com o curso que tirei mas quando terminei a
licenciatura fiquei com vontade de tirar medicina.
Achavas
que medicina seria um bom complemento ao teu curso?
Não é bem um
complemento. Depois de perceber e de estudar anatomia, fisiologia e patologia,
por exemplo, percebi que gostava de experimentar algo mais. Que
cardiopneumologia afinal não era bem o que eu queria. Quem sabe um dia talvez
venha a tirar medicina…
Quais
foram as maiores dificuldades que encontraste até terminar o curso?
Bem, todos os cursos têm
aquelas cadeiras que só passas à terceira ou quarta vez mas não considero isso
uma grande dificuldade porque já estava à espera. Agora, a única dificuldade que
tive foi financeira. Até porque tive de pedir um empréstimo ao banco que ainda
estou a pagar.
O
que aconteceu quando acabaste o curso? Conseguiste logo o primeiro trabalho?
Andei à procura de
trabalho e ao mesmo tempo andava a fazer trabalho como voluntário. Mas posso
dizer que não tive muita dificuldade em encontrar trabalho porque comecei a
trabalhar passados quatro meses.
Foi
um trabalho na tua área?
Sim, foi. Foi numa
empresa da área do sono. Ia a casa dos pacientes para os acompanhar no
tratamento do sono (apneia), fazia algumas consultas nos hospitais.
Quando
é que decides sair do país?
Já pensava nisso quando
ainda estava a tirar o curso.
Porquê?
Tinha noção do estado
actual do país, e porque sabia que iria ser muito difícil arranjar um trabalho.
Como
é que surgiu a hipótese de ir trabalhar para Galway, na Irlanda?
Desde que acabei o
curso. Estive sempre à procura de trabalho no estrangeiro. Registei-me em
algumas agências de recrutamento e enviei currículos para todo o lado. Um dia
tive a sorte de uma agência de recrutamento me ligar a dizer que tinham
encontrado uma vaga para Galway. Fui escolhido para a entrevista e fiquei com o
cargo.
Quando
soubeste que o cargo era teu e que tinhas de ir, o que é que pensaste? Qual foi
a reacção das pessoas que te eram próximas?
No momento que soube,
fiquei completamente em êxtase e não pensei em mais nada a não ser nas coisas
boas. As pessoas à minha volta não gostaram muito da ideia mas sempre fui muito
apoiado.
Passadas algumas horas é
que comecei a pensar em tudo. Prós e contras sobre a minha mudança mas sempre com muita vontade de
ir.
O
que é que encontraste quando chegaste a Galway? Como é que foste recebido?
Encontrei uma cidade
pequena mas com muito movimento e com muita gente nova, o que me agradou muito.
Fui bem recebido, tive muita ajuda. E nunca tive problemas por causa da língua.
Os irlandeses, pelo menos em Galway, gostam muito de ajudar e de se sentirem úteis.
Conhecias
ou tinhas alguém por lá ou estiveste completamente sozinho?
Tinha uma amiga que
estava noutra cidade, que ficava a hora e meia de Galway, mas que me ajudou
muito. Em Galway estava sozinho.
O
que é que foi mais difícil na mudança e depois na adaptação pessoal e
profissional?
Talvez as primeiras
duas semanas em que tive de ficar num B&B (hotel onde se tem apenas cama e
pequeno almoço) e o tratar de todos os documentos. Sendo sociável, conheci logo
pessoas e foi mais fácil. A nível profissional, o software era um bocado
diferente mas os meus colegas ajudaram-me e ensinaram-me a trabalhar com ele.
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Amigos de Galway |
Aspectos
positivos de Galway. Quais foram? Eras bem pago por lá?
Aspectos positivos
foram quase todos. A cidade, como já disse, é muito pequena mas muito
acolhedora. As primeiras semanas em que estive lá, tentava sempre comparar Galway
com Portugal e realmente algumas paisagens são muito parecidas. Comparei com o
Algarve, Cascais, Sintra, com o norte… Estive lá a viver durante um ano e cinco
meses e consegui visitar a ilha quase toda. Uma ilha lindíssima com paisagens
espectaculares.
A noite em Galway,
comparada com a de Portugal, não é lá grande coisa por causa dos horários. Os
sítios fecham às duas, três da manhã e depois disso vai tudo para casa. Mas a nível
de espírito é realmente muito bom.
Aconselho vivamente toda
a gente a visitar a Irlanda ou para trabalhar. Os ordenados são bem melhores e
a qualidade de vida é bem melhor que em Portugal, até porque os supermercados têm
o mesmo preço dos supermercados de Portugal.
A única parte má foi a nível
profissional. Senti que estava estagnado e que não ia aprender mais nada do que
aprendi.
Recentemente
mudaste-te para Inglaterra. A que se deveu essa mudança?
Senti que estava
estagnado a nível profissional na Irlanda. Decidi então mudar-me para
Inglaterra. Aqui sei que vou aprender mais e vou ganhar ainda mais experiência.
Está
a ser fácil a adaptação? Que diferenças estás a encontrar?
No trabalho está a ser
muito fácil. Fui muito bem recebido e eles estão acreditar e a confiar muito no
meu trabalho. Sinto que só por ser português já tenho muito mais vantagens,
pois eles adoram os portugueses pelo aspecto de sermos muito trabalhadores e de
sabermos, muitas vezes, mais do que nos é pedido.
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Férias em Portugal |
Em relação à cidade, é
muito maior que Galway. Sendo a segunda maior cidade do país, levará mais tempo
esta adaptação.
O
que é que esperavas do teu país que ele não te tenha dado?
Estabilidade. Procura.
Apoio. Aqui sinto que tenho tudo isso e sinto que se algo acontecer, tenho
apoios a todos os níveis.
Como é lógico, sinto
saudades de muitas coisas em Portugal, desde a família, amigos, à nossa comida
que é tão boa e tão falada aqui por estes lados. As nossas paisagens, as nossa
aldeolas, tudo. Sinto muitas saudades de tudo. Sinto saudade das noites
portuguesas. Um dia hei-de voltar. Não sei quando mas irei!
Que
mensagem queres deixar aos que querem sair do país à procura de uma vida
melhor?
Da pouca experiência
que tenho, sinto que a primeira coisa que têm de pensar é se realmente querem ou
conseguem deixar a vida que têm em Portugal. É tudo muito bonito quando vamos
para outro pais e o ordenado é duas ou três vezes melhor que em Portugal mas dinheiro
não é tudo. Ajuda, como é lógico. E muito. Mas não é tudo. Se a parte emocional
não estiver estabilizada, não há dinheiro que pague seja o que for.
Na minha opinião, e
depois de ter referido a parte emocional, acho que devem emigrar, porque neste
momento, em Portugal, como toda a gente sabe, e talvez melhor do que eu, as
coisas não estão fáceis. E aqui poderão ter uma qualidade de vida muito, mas
muito melhor. As ofertas de trabalho são às centenas e as pessoas acreditam em
nós. Desenvolvam o inglês e posso garantir-vos que irão arranjar trabalho.
Ao contrário do nosso
país e do nosso governo, as pessoas aqui acreditam e gostam muito dos portugueses.
Dizem que somos muito inteligentes e que somos muito trabalhadores e que
gostamos de cumprir horários.
Custa, como é lógico.
Custa sair do nosso país do qual tanto gostamos e custa deixar a nossa cidade, família
e amigos para trás. Mas temos de pensar que irá ser o melhor para nós e que um
dia todo o bom filho regressa a casa.
Obrigado, Filipe!