Fotografia retirada do GOOGLE |
"O teu namorado de
16 anos não é nervoso, é uma besta. Enviar-te 35 mensagens
durante o dia a dizer que te ama e a perguntar onde estás não é uma prova de
amor.
É uma prova de que ele
é um controlador e que, se tu deixas que ele o faça e não pões um travão a
tempo, a coisa só vai ter tendência para piorar ainda mais.
Fazer-te perguntas
sobre dinheiro não é indício de estar atento aos tempos difíceis em que
vivemos, e reflexo de uma educação de poupança. Falar muitas vezes disso
indica, isso sim, que um dia ele vai querer controlar o teu dinheiro.
Aliás, se dependesse
dele, era ele que geria já a tua mesada. Quanto gastas. Quando gastas. Em que
gastas. Quando deres por ti, estarás a pedir-lhe autorização para comprar
coisas para ti.
Pedir a password do teu
e-mail ou da tua conta de Facebook não é sinal de que vocês nada têm a esconder
um do outro. Não é sinal de que, entre vocês, tudo é um livro aberto. Mesmo que
ele insista em dar-te a password dele. Isso é um sinal de desconfiança
permanente. E um passo grande para o fim da tua privacidade. Sabes o que é
privacidade, certo? É uma zona tua, onde mais ninguém entra. A não ser que
tu queiras.
Os comentários sobre a
roupa que usas ou o novo corte de cabelo não revelam um ciuminho saudável.
Revelam que é ciumento. Ponto. Pouco lhe importa se tu gostas daquele top,
daqueles calções ou daquelas calças apertadas. Entre os argumentos usados,
talvez ele diga que já não precisas de te vestir assim, porque isso atrai a
atenção de outros rapazes e tu já tens namorado. Se não fores capaz de lhe
dizer, na altura, que te vestes assim porque te apetece, não para lhe agradar,
pensa que este é o mesmo princípio que leva muitas sociedades a obrigar as
mulheres a usar burka... Não é exagero. Controlar o que tu vestes é exatamente
a mesma coisa.
Perguntar-te a toda a
hora quem é que te telefonou ou ver o teu telemóvel, à procura das chamadas
feitas e atendidas e das mensagens enviadas e recebidas não é um reflexo de
pequeno ciúme. É um sinal de grande insegurança. Faças tu o que fizeres, dês tu
as provas de amor que deres (na tua idade, o amor ainda tem muito para rolar,
mas tu perceberás isso com o tempo), ele sentirá sempre que é pouco. E vai
querer mais, e mais. E tu terás cada vez menos e menos.
Apertar-te o braço com
mais força num dia em que se chatearam e lhe passou qualquer coisa má pela
cabeça não é um caso isolado e uma coisa que devas minimizar porque ele estava
nervoso. Aconteceu daquela vez e é muito, muito, muito provável que volte a
acontecer. Um dia ele estará mais nervoso. E a marca no teu braço será maior. E
mesmo que ele «nunca tenha encostado um dedo» em ti, a violência psicológica
pode ser tão ou mais grave do que a física.
Gostar de ti mas não
gostar de estar com os teus amigos não é amor. É controlo. E é errado. O
isolamento social é terrível.Continuar a telefonar-te insistentemente depois de
tu teres dito que queres acabar a relação, ou encher-te o telemóvel com
mensagens a pregar o amor eterno, não significa que ele esteja a sofrer muito.
Significa, sim, uma frustração em lidar com a rejeição. E se pensares em voltar
para ele, pensa que da próxima vez que isso acontecer ele vai telefonar-te mais
vezes. E enviar-te mais mensagens.
Guardares estas coisas
para ti não é um sintoma da tua timidez. Não quer dizer que sejas reservada. É
uma estratégia de defesa tua. E um pouco de vergonha, à mistura, não é? E que
tal partilhares isso? Ficarias espantada com a quantidade de amigas tuas que
passam por situações semelhantes.
Talvez a sua filha não
leia isto. Mas que tal mostrar-lhe a revista, para ela pensar um pouco?"
Paulo Farinha | DN - Notícias Magazine
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