27 de Maio de 2012, 18h
Inicia-se
a aventura que faz com que as minhas opções profissionais ganhem mais sentido
ainda. Começa a emissão de rádio no Banco Alimentar Contra a Fome, apoiada pela
Universidade Autónoma de Lisboa, na qual estudei. Faço parte da equipa que das
18h às 22h anima todos os armazéns do país associados a esta nobre causa. Em estúdio
estão quatro pessoas que, entre muitas outras, abdicaram de parte do seu
fim-de-semana para alimentar a ideia de que devemos ajudar porque um dia, sem
darmos por isso, podemos ser nós a precisar deste apoio.
Entre
nervos, ansiedade e muita vontade de fazer bem e cumprir a missão de animar e
dar força aos que verdadeiramente trabalham nos armazéns, lá ficou decidido que
além da animação em estúdio, também por grande vontade minha, ficaria a fazer
reportagem de exteriores. Fi-lo por achar que a verdadeira forma de chegar às
pessoas, através da comunicação, passa por estar junto a elas. O mais próximo possível,
aliás.
Numa
das várias intervenções que fiz em exteriores, entre pesagens e entrevistas,
surgiu um jovem muito especial: o André. Abordou-me vezes sem conta. As
abordagens foram estranhas, uma vez que o André apenas me puxava pelo braço
pedindo-me atenção para a qual, naquele momento, não tinha tempo. Minutos
depois, após terminar o directo, parei para tentar perceber o que queria o rapaz.
Sem sequer imaginar, acabou por mudar-me a vida. Surdo-mudo e com algumas
limitações físicas, queria que eu passasse uma mensagem para todos os que nos
ouviam através da Rádio Autónoma. Pediu-me que dissesse a todos que, apesar de
apenas ouvir alguns ruídos da música, estava a adorar ali estar e eu disse-lhe
que passaria a mensagem no próximo directo. Duvidando de mim, pediu-me que
todos os presentes no armazém levantassem os braços após ouvirem a sua
mensagem, já que era a única forma de confirmar que o recado era dado. Achei
quase impossível, tal era a concentração de todos os voluntários que mal se
mexiam do posto que ocupavam mas, mesmo assim, comprometi-me a fazê-lo. Era o
mínimo depois de perceber que aquele rapaz, com tantas dificuldades na vida,
estava ali a apoiar a causa que a muitos se faz chegar por todo o país.
Nervoso, inicio o directo avisando que tinha a tal mensagem a passar. Fi-lo com
muita convicção porque sabia a importância que tinha para o André, mesmo
achando que poucos iriam ligar ao que dizia, quando o mais importante era o
trabalho que ali se fazia.
Enganei-me. A mensagem foi passada e o armazém
parou. Parou porque o André merecia. Não por ter limitações. O André merecia
porque era um lutador com um grande coração. O armazém parou porque o
importante é mostrar que estas pessoas também têm lugar e que esse lugar é
junto de todos nós. Arrepiei-me. Caíram-me duas lágrimas de felicidade e
depressa me surgiu a sensação de missão cumprida. Ganhei a noite. O André
sorriu, ficou extremamente feliz e continuou a ajudar junto à zona do grão. E
eu, que continuei a emissão com os meus colegas, percebi que a minha vida só
pode passar por isto. Foi nesta noite que percebi o verdadeiro significado de
comunicar para as pessoas. Foi nesta noite que percebi que não há volta a dar,
que as pessoas são o mais importante e que é a pensar nelas que devemos
trabalhar. Foi nesta noite que tudo fez ainda mais sentido e que percebi que
ando nesta luta por um lugar porque estou cá pelos motivos certos.
Deste
caminho, custe o que custar, ninguém me tira.
P.s.:
Todos os anos marco presença nas emissões da Rádio Autónoma a partir do Banco
Alimentar Contra a Fome. Todos os anos o André vem ter comigo para me
cumprimentar, mostrando que jamais se esquecerá daquele momento. Eu também não
esqueço. O André mudou a minha vida. Espero ter melhorado a dele.
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