quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Até ao Próximo Natal...?




Agora que passou o Natal e que até aproveitaste a mesma mensagem que mandas de ano a ano para desejar um feliz 2015, podes seguir em frente para mais um ano.
Já te lembraste uma vez das pessoas, já lhes disseste que gostas muito delas e até já deste a desculpa de que não houve tempo. Tudo bem, está perfeito. No próximo ano podes dizer que mudaste de telemóvel, que perdeste os números e que só no Natal te lembraste daquela pessoa em comum a quem pediste o contacto para conseguir dizer algo. Vai parecer menos mal. Aquela tia afastada que até tem estado muito doente vai engolir também essa desculpa. Afinal de contas, é afastada.
Já podes voltar à tua vida ocupada porque já passou a fase em que todos se preocupam com as boas causas, a solidariedade e os familiares de quem até gostas mas cujas vidas não permitem grandes encontros. Afinal, família para quê? Nada. Ora essa.

Já não vais encontrar na televisão a Missão Sorriso, nem o Toca a Todos e tão pouco o Código Dá Vinte. As crianças, os idosos e os pobres conseguem ser alimentados todo o ano com o muito dinheiro angariado nas campanhas solidárias porque os pobres em Portugal são muito poucos. Tão poucos que quase não existem sem-abrigo e, sendo assim, dá perfeitamente. Só no Natal há pobreza infantil, sem-abrigo sujeitos ao frio e à chuva e idosos cujas reformas não chegam nem a meio do mês. Só no Natal é que as pessoas precisam de viver ligeiramente bem e com alguma, repito, alguma dignidade. Isto porque só no Natal tens o coração quentinho. Fazes a caridadezinha e durante o ano viras a cara porque és extremamente ocupado. Como não és egoísta, voltas à faculdade ou ao trabalho e comentas os imensos presentes que recebeste, lamentas o facto de se terem esquecido do iPhone 6 e anseias os saldos para andares sempre impecável nos mais diversos eventos que a vida te proporciona.

Durante o resto do ano, pedes o verão, alimentas os teus sonhos e nem vale a pena pensares que há quem não os tenha. Não te preocupes... Só interessam os teus porque os outros nasceram condenados e têm de viver a condenação ao frio, à chuva e com muita fome. Nem interessa se são bonitos ou feios, ou até se andam bem vestidos. Importa é que tu estejas bem.
Durante todo o ano, quem importa és tu. Não te importes com mais nada porque a tua felicidade e o teu bem-estar estão acima de qualquer coisa. Pelo menos, só até perderes a tua dignidade e te encontrares de igual ou pior forma.

O Natal? Ah, sim, foi imensamente bom. Venha o próximo para pensares e lembrares aqueles que durante todo o ano desprezas. Assim és muito melhor!
Não importa a mãe que não coma o pouco que tem para deixar para os filhos. Afinal de contas, a mãe só não come porque não tem fome.
Não importam os idosos ignorados pelas famílias porque são velhos e dão muito trabalho. Não importam aqueles sujos da rua que não comem e que dormem ao frio porque são o lado negro da sociedade e até usam o pouco que têm para a droga.
Não importam sequer os doentes abandonados no hospital e muito menos importam os animais maltratados. Só importas tu. Não te esqueças disso nunca. Tu, tu e tu.


Feliz Natal ó tu! Até ao próximo.


Texto de Filipe Carvalho