Agora
que passou o Natal e que até aproveitaste a mesma mensagem que mandas de ano a
ano para desejar um feliz 2015, podes seguir em frente para mais um ano.
Já
te lembraste uma vez das pessoas, já lhes disseste que gostas muito delas e até
já deste a desculpa de que não houve tempo. Tudo bem, está perfeito. No próximo ano podes
dizer que mudaste de telemóvel, que perdeste os números e que só no Natal te
lembraste daquela pessoa em comum a quem pediste o contacto para conseguir dizer algo. Vai parecer menos
mal. Aquela tia afastada que até tem estado muito doente vai engolir também
essa desculpa. Afinal de contas, é afastada.
Já
podes voltar à tua vida ocupada porque já passou a fase em que todos se preocupam
com as boas causas, a solidariedade e os familiares de quem até gostas mas
cujas vidas não permitem grandes encontros. Afinal, família para quê? Nada. Ora
essa.
Já
não vais encontrar na televisão a Missão Sorriso, nem o Toca a Todos e tão
pouco o Código Dá Vinte. As crianças, os idosos e os pobres conseguem ser
alimentados todo o ano com o muito dinheiro angariado nas campanhas solidárias
porque os pobres em Portugal são muito poucos. Tão poucos que quase não existem
sem-abrigo e, sendo assim, dá perfeitamente. Só no Natal há pobreza infantil,
sem-abrigo sujeitos ao frio e à chuva e idosos cujas reformas não chegam nem a
meio do mês. Só no Natal é que as pessoas precisam de viver ligeiramente bem e
com alguma, repito, alguma dignidade. Isto porque só no Natal tens o coração
quentinho. Fazes a caridadezinha e durante o ano viras a cara porque és extremamente ocupado. Como não és egoísta, voltas à faculdade ou ao
trabalho e comentas os imensos presentes que recebeste, lamentas o facto de
se terem esquecido do iPhone 6 e anseias os saldos para andares sempre
impecável nos mais diversos eventos que a vida te proporciona.
Durante
o resto do ano, pedes o verão, alimentas os teus sonhos e nem vale a pena
pensares que há quem não os tenha. Não te preocupes... Só interessam os teus
porque os outros nasceram condenados e têm de viver a condenação ao frio, à
chuva e com muita fome. Nem interessa se são bonitos ou feios, ou até se andam
bem vestidos. Importa é que tu estejas bem.
Durante
todo o ano, quem importa és tu. Não te importes com mais nada porque a tua
felicidade e o teu bem-estar estão acima de qualquer coisa. Pelo menos, só até
perderes a tua dignidade e te encontrares de igual ou pior forma.
O
Natal? Ah, sim, foi imensamente bom. Venha o próximo para pensares e
lembrares aqueles que durante todo o ano desprezas. Assim és muito melhor!
Não
importa a mãe que não coma o pouco que tem para deixar para os filhos. Afinal
de contas, a mãe só não come porque não tem fome.
Não
importam os idosos ignorados pelas famílias porque são velhos e dão muito
trabalho. Não importam aqueles sujos da rua que não comem e que dormem ao frio
porque são o lado negro da sociedade e até usam o pouco que têm para a droga.
Não
importam sequer os doentes abandonados no hospital e muito menos importam os
animais maltratados. Só importas tu. Não te esqueças disso nunca. Tu, tu e tu.
Feliz
Natal ó tu! Até ao próximo.
Texto de Filipe Carvalho